quinta-feira, 28 de agosto de 2014

*** A Casa do Tempo Perdido ***






















Bati no portão do tempo perdido, ninguém atendeu.
Bati segunda vez e mais outra e mais outra.
Resposta nenhuma.
A casa do tempo perdido está coberta de hera
Pela metade; a outra metade são cinzas.


Casa onde não mora ninguém, e eu batendo e chamando
Pela dor de chamar e não ser escutado.


Simplesmente bater. O eco devolve
Minha ânsia de entreabrir esses paços gelados.
A noite e o dia se confundem no esperar,
No bater e bater.

O tempo perdido certamente não existe.
É o casarão vazio e condenado.


 Carlos Drummond de Andrade


quinta-feira, 21 de agosto de 2014

*** Saudades ***



















Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.

E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.

terça-feira, 19 de agosto de 2014
















Guardo em mim
uma colcha de esperas.
Um querer feito
de silêncios
alimentado de orvalhos.
Guardo nos bolsos
retalhos de manhãs
que recolho
na vã ilusão
de viver um dia.
Carrego na alma
palavras inaudíveis
que talvez
nunca sejam ditas.
Trago nas mãos
gestos tão ternos
impossíveis
de serem traduzidos.



Miriam Portela

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

















E há um tempo de rosas renascidas
dos áridos desertos que nós somos
não obstante o estio vão os pomos
adoçando o penar de nossas vidas!

Ainda há um tempo que a saudade
como um rio que chora de piedade
nosso pranto carrega para o mar...

E vai além o nosso amor profundo
cantando no crepúsculo do mundo
a canção que a razão faz navegar!


Afonso Estebanez – 

domingo, 10 de agosto de 2014

















Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.

Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperença a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!

Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.


Fernando Pessoa

quinta-feira, 7 de agosto de 2014























Você diz!
 que ama a chuva,
 mas você
 abre seu guarda-chuva quando chove.
 Você diz que ama o sol,
 mas você procura
 um ponto de sombra quando o sol brilha.
 Você diz que ama o vento,
 mas você fecha as janelas quando o vento sopra.
 É por isso que eu tenho medo.
 Você também diz que me ama...


sábado, 2 de agosto de 2014

*** Te Perdi ***

















 Dói
 em mim saber que te perdi,
 por ingenuidade?
por falta de coragem...
Covardia, talvez
não tenho certeza
só a dor persistiu ao longo
do tempo...
Se criei ilusões, fantasias
foi pra sobreviver a tua ausência
mas só quem sabe e a solidão pois fez da minha pobre vida
um turbilhão de dias sem cor e  sem
alegrias reais...
 pedaços de momentos tingidos de
esperanças
que perdem a cor com a chegada da noite me deixando vazia
e mergulho de volta ao passado..
na busca do teu abraço, busco ar, e a alegria que vinha do teu olhar.
enchendo a minha vida de sol.
Hoje tudo o que me resta e vazio e solidão...

                      Darcy Bilherbeck

Guarulhos, 02 de agosto de 2014.