sexta-feira, 26 de agosto de 2011

*** Momento ***


Meu corpo  flutua sobre as ondas
 Do mar, me deixo levar
No balanço das ondas
Me descubro oceano...
Imenso
Sou água
Cristalina enquanto na sua essência
Mas também sou intensa
 Passional
Me deixo levar as profundezas
Onde esqueço de mim
Já não me cobro nada, pois vivo em toda molécula
Sou um todo e já não sou nada
Você não me vê, mas me sente estou tanto na sua solidão
Quanto no seu sorriso e nas profundezas me movimento

Eu e meus fantasmas eu e meus medos eu e minha alma
Sou o tempo que se cala e espera
Que o vento sopre e me carregue, pois sou espuma
Na superfície das ondas
Não tenho pressa de voltar
No abandono encontro a minha liberdade.

São Paulo,26 de Agosto de 2011

Darcy Bilherbeck.


















sábado, 20 de agosto de 2011

*** Impotência ***


Muito tenho lido sobre a impotência, mas nada se compara ao que vivi
Durante 103 dias dentro de uma ala de infectologia do hospital São Paulo
Desde o momento em que lá fui internada, meus direitos de ser humano foram
Alienados, subjugados, alterados e controlados, como se o fato de estar ali me tirassem o direito da vida, da escolha, do livre arbítrio em fim, era apenas um numero do leito a mim destinado onde meu histórico era todos os dias questionados por pessoas muitas vezes incompetentes, mas que vestiam jalecos brancos, impotência, não era dona de mim, do meu corpo, da minha vontade, meu direito de ir e vir tinha ficado suspenso, a partir do momento que entrei naquele lugar, a princípio pensei ,entrei em um hospício, pois ouvia choro, lágrimas, revolta, mau humor, e o pior, confinamento, portas fechadas. Janelas lacradas e apenas um corredor onde não era permitido ficar andando, não era permitido pedir um lanche na lanchonete. A comida de péssima qualidade, sem cheiro, sem sabor, sem sal, o café não tinha condições de ser tomado, sem contar o fato de ficarmos das 17 horas até as 08 ou 09horas da manhã sem complemento alimentar apenas medicação, fortíssimas por sinal.
Somente após 30 dias fui conseguir ter o direito de sair no corredor externo da ala e respirar um ar menos poluído e ter um pouco de liberdade de pensar e livrar os meus olhos daquele quadro de terror em que estava queria tanto poder lavar meus olhos das imagens, silenciar meus ouvidos e buscar um pouco de paz para meu espírito que ansiava por liberdade e silencio.
Não conseguia dormir, pois que lá não se tem noite é sempre dia, luzes que se acendem a toda hora, porta que bate, enfermeiras que apesar de serem humanas tem falta de humanidade para com o seu próximo como a dizer, faço a minha obrigação cumpro o meu horário e é só. A cada semana era obrigada a mudar de quarto por esse ou aquele motivo, as vezes era eu que implorava para mudar, já que era impossível ficar na companhia da pessoa que era minha companheira de quarto, uma vês que ela não me deixava descansar, gritava a noite toda, se sujava toda e as enfermeiras não tinham um pingo de paciência para com ela e um mínimo de respeito para comigo. Outras vezes era a loucura mesmo na hora das refeições eu saia pois não tinha estomago para ficar. Em outras passavam tão mal que de madrugada me tiravam do quarto para fazer limpeza e amarrar o paciente, nessa noite eu amanhecia no corredor sem dormir, de olhos abertos como foram meus 103 dias de martírio e impotência frente ao que tinha que enfrentar sem reclamar já que não tinha alternativa, visto que somente lá havia tratamento para a bactéria que contraí.sem contar que após 60 dias já não havia mais veia que não estivesse estourada ou estressada demais para receber medicação, sem dizer que muitas das vezes a 8 vezes para conseguir uma veia boa, meus braços eram só hematomas, sem dizer das reações alérgicas decorrentes da medicação o que acarretava a extrema letargia dos meus sentidos, me deixando sem equilíbrio e sem vontade de viver.
Se não fosse a certeza de que tudo o que acontece na vida tem um motivo , seja para crescimento ou entendimento de que somos falíveis e que temos de lutar ,porque isso está em
Nós e não importa o quanto temos que enfrentar, façamos conscientes de que uma força maior nos impulsiona e essa força vem de Deus que nunca falha e está do nosso lado. Sofrimento e impotência frente a dor de não saber até quando. Enfrentar as maselas e conviver com pessoas estranhas que se tornam rotinas era o que tinha de enfrentar muitas das vezes ouvir e calar, ver e não enxergar, na convivência de pessoas sem muito e outra com muito para dar, o que me segurou foi olhar o lado bom das pessoas e ser pacientes e nunca me abater. Assim foi que consegui o direito ao meu refugio no 15º andar onde me dedicava a leitura e a escrita, descendo para medicação e visita medica. Dormir foi o meu maior desafio e minha tortura, o plantão da noite era terrível, raramente tínhamos algum tipo de atenção além do mau humor, Daria uma vida por uma noite de sono na minha cama , no meu quarto.Existem exceções ,com certeza ,mas são raras principalmente à noite, são enfermeiros que já vêm de outro plantão, estão cansados e os enfermos pagam o preço , por estar ali.
olho ao redor e vejo tanto sofrimento ,que me esqueço do meu, então nesse momento clamo por Deus para ter força humildade e paciência para achar a porta que me leve ao menos o pensamento de se ausentar de mim quando tudo o mais não me é permitido, então descubro que posso sair e andar depois da medicação com a promessa de não sair do hospital, não é o meu interesse nesse momento ,pois sei que tenho de permanecer aqui até ser liberada e só o tempo dirá quando pois tudo indica que ficarei aqui por muito tempo, mas minha confiança em Deus é infinita e Ele sabe quando sairei.Que bom poder sair e subir as escadas até o 15º andar, fiquei sabendo lá em cima é tudo de vidro e que posso ver a cidade.Impotência de não poder ser um pássaro e sair voando pela fresta da janela me trazem lágrimas aos meus olhos cansados
Ao meu coração acelerado pela subida pois fiz questão de subir pelas escadas sentindo cada passo, cada degrau, valeu a pena, a vista é maravilhosa e curto cada detalhe, cada telhado, cada arvore, cada carro lá embaixo e me choco com o direito de ir e vir quando tenho tolhido o meu direito, cercada de ferro e concreto e contemplo o céu, o tempo para sobre o hoje e vejo a cidade que pulsa, que se agita, as pessoas que seguem seu rumo tantas vezes incertos, mas livres! Sem correntes nos pés.Os prédios se agigantam e permanecem nos seus lugares como um porto seguro para aqueles que partem e tem a graça do poder retornar e nem se importam em tirar um segundo para dizer Senhor obrigado por estar em segurança.
Aqui estou eu a contemplar a liberdade dos que estão lá fora, penso nos meus e rogo a Deus que os leve em segurança para casa e que chegue logo o final de semana para poder abraçá-los. Impotência de não tocá-los todos os dias é muito grande e me dou conta de quanto os amo e os quero livres e sadios , gostaria de pedir perdão por estar dando tanta preocupação e ausência , choro quando chegam e choro quando partem.Impotência de não poder seguir com eles e saber, que haverá outro tantos dias iguais. Olho em volta, são quatro paredes onde se abriga um mundo a parte. Tem gente que vai tem gente que entra e fica sem estimativa concreta de saída, só sabemos que estamos aqui. Todas as raças, todas as cores, todas as crenças, pessoas humildes em todas as escalas da sociedade, gente que ri, gente que chora, gente com dores atrozes, seres humanos em frangalhos de corpo espírito e mente, gente de fé, gente descrente de si mesmo e de outrem, gente que acredita na cura do corpo e esquece o mais importante o espírito pois que sendo fraco não ajudará o corpo. Tem gente que vê e não enxerga e os que enxergam e não têm a capacidade de ver, a outros que nem deveriam estar aqui, pois que não sabem se doar, são ocos, indiferentes e frios como se fossem revestidos de carne ou só carne, despidos dos preceitos que se fazem necessários.
Há gente que entra e saí sem deixar marcas a outros que doam o sorriso que acalenta o beijo que cura, o afago que restaura o mais empedernido coração há aqueles que com o olhar te enchem o coração de coragem para continuar e há aqueles que sem saber já te ignoraram.
Tenho pena do ser humano que se propõe a curar a ajudar a aliviar a dor, mas não tem nada a oferecer a não ser o remédio prescrito com mãos frias e coração técnico são os impotentes de espírito que só olham os crachá medicina, quando o mundo esta carente de amor, bondade, competência, disponibilidade, integridade, moral,honestidade parcimônia ,impotência diante do fraco, daquele que nada tem a oferecer, do moribundo sem família que chora sua própria perda em cima de um leito de hospital e seu único consolo é o beijo da morte, o lençol que cobre seu corpo sem vida. Impotência de estar aqui, já não choro minhas perdas,choro pelas vidas que se perdem aqui pela incompetência e mau uso do dinheiro público.
Sairei daqui eu sei, todo esse tempo entre quatro paredes, entre tanto sofrimento me faz mais forte sabendo das minhas falhas como ser humano serei melhor pois aprendi como a liberdade de ir e vir vale ouro e que ter a mente sadia em meio ao caos é superar barreiras
Entender que não somos nada que a impotência pode bater a nossa porta a qualquer instante nos deixando a mercê de outros, que nossos valores são relevantes quando nossa vida está entregue a outra e dependemos uns dos outros enquanto aqui estivermos.

São Paulo,18 de dezembro de 2009.

Darcy Bilherbeck.

domingo, 14 de agosto de 2011

*** Você em Mim ***


O vento lá fora me faz lembrar você
Meu dia está vazio da tua presença
 Sinto no ar o teu cheiro, teu perfume
Um misto de tristeza invade meu pensamento
E me dou conta do quanto te preciso
Para poder sorrir e achar o sentido das coisas
O prazer de poder olhar os teus olhos
E mergulhar nas profundezas de tua alma
Pois me permites ir além das aparências que nos separam
Onde o teu olhar é a pura extensão da minha plenitude
De sentimentos inacabados e que sem querer
Você os completa dando sentido a minha vida
Sei que somos um dividido em dois
Isso me assusta, pois de repente estou só
Mas o som da tua voz continua
 Nos meus ouvidos sensíveis a você
Que grande ironia
 Teu riso se espalha pelo ar
Que incredulidade a minha achando que me deixarias
Viver de fantasias quando es parte de mim ...

São Paulo, 14/08/11
Darcy Bilherbeck.