Um dia...
Vi meus sonhos ruírem, minhas ilusões... Se tornarem nada
Meu mundo caíra,
Desolada, confusa me
senti só
Fora da realidade
Quis deixar-me em algum lugar onde eu não me visse mais,
Havia me transformado.
Um rosto antes belo e sem marcas
Agora o tinha deformado
Não conseguia mais viver comigo,
A provação é por demais dolorosa
Para o meu orgulho de
mulher
Sufoquei a minha dor
Isolei-me do mundo e de mim
Um dia... Fui parar num lugar estranho e deserto
Assim como eu, estranha e deserta,
Longe de tudo o que
eu conhecia
Lugar estranho e de gente esquisita
Durante a semana era deserta, feia,
Apenas o mar me
atraia e me deixava ficar
Longe dos olhares curiosos, nesse tempo
Eu vagava entre a escuridão do meu mundo
Sombrio.
Na solidão de andarilha do tempo
Eu me consumia em andar por ruas desertas
Buscando respostas no vazio absurdo que eu criara
Vi tanta devastação, tanta destruição da natureza
Que fui sendo tocada a olhar com mais atenção ao meu redor
O cenário era desanimador, montes e montes de árvores
derrubadas
Empilhadas e sendo queimadas em grandes fogueiras. Com a
alma
Condoída voltei pra casa, peguei uma câmera e voltei ao
cenário desolador
Comecei aí a documentar tudo aquilo. Chorei muito por vários
dias e não conseguia me conformar, era como se fosse eu a ser invadida,
quebrada, queimada e abandonada
Um dia resolvi pegar um carrinho de pedreiro, coloquei um chapéu,
calcei uma bota, um facão saí, sem ter noção do que iria fazer, voltei ao local
das queimadas e fiquei a olhar e de repente me vi pegando uma raiz queimada,
melhor dizendo carbonizada, coloquei no carrinho e voltei pra casa, depositei
no quintal,depois disso, todos os dias eu voltava ao local, mexia e
remexia naqueles montes de raízes retorcidas
e aquela que me atraia, eu pegava e levava pra casa. Teve gente que dizia que
eu tinha enlouquecido, mas no meu mundo isso não importava
Eu pouco enxergava o mundo e as pessoas a minha volta. Comecei
a me preocupar com a situação daquelas arvores sendo consumidas pelo fogo.
Mal sabia que o” escultor” Fogo estava a trabalhar à sua
maneira e o Senhor do Universo também “Eles só esperavam que alguém tomasse
sentido do que ocorria ali. e eu fui a escolhida, talvez porque estivesse em
igual situação, embora eu sempre soubesse que quando Deus quer agir, Ele
levanta do pó a criatura que Ele escolhe e dá a direção colocando em seu
coração o que Ele quer, se quer nos moldar tem o poder de nos quebrar em cacos,
para colocar cada um no seu lugar, Ele é poderoso para fazer isso. Eu não tinha
consciência disso
Apenas fazia o que eu achava que tinha de ser feito, louca
ou lúcida eu continuava, eu estava só, ou eu pensava que estava,quando já tinha
um belo monte de entulho e era isso que parecia, no meu quintal, achei que era
ora de parar de sair e me aventurar por lugares perigosos e cheios de cobras e
lagartos.
Levantava com o sol e saia a caminhar na praia deserta,
muitas vezes me lançava ao mar na ânsia de afogar os pensamentos sombrios e sem
dar por mim, estava deitada na areia a ouvir o barulho das ondas, foi um tempo
indefinido esse que passei até começar a perceber as pedras que as ondas traziam
e depositava nas areias comecei uma nova etapa, catar pedras de todos os tamanhos
e cores, conchas de todos os tipos e formas, mal sabias para que elas serviriam
Voltava pra casa nessas alturas de tempo, negra pelo sol,
minha vida se dividia a sair quando o sol nascia e voltava 5 horas depois, tomava
um banho tomava café, arrumava a casa, cuidava das plantas que eu plantei no
terreno, eram amoras, acerolas, maracujá, coco, laranja em cacho, uva, que
ganhei três galhinhos que me mandaram plantar, escolhi um lugar e plantei
depois de cinco dias na água, no primeiro ano com menos de50 cm me agraciou com
três cachinhos de uva, fiquei tão feliz, vendo o seu crescimento que no ano
seguinte coloquei quatro estacas e fiz uma rede como de pescador, pra ela
subir, nesse ano ela me presenteou com 84 cachos de uva e a rede já não a
suportava mais, então comprei madeira, cimento, pedra, areia, enxada, serrote,
pregos e coragem, perdi o medo da furadeira e cavei buracos, misturei massa fiz
concreto e ergui um pergolado onde ela pudesse se desenvolver, e nesse ano ela
me ofertou com 184 cachos de lindas uvas rosadas doce como mel, foi um premio
pra mim,pois que cuidava dela com todo amor e carinho, que concebera pelas
plantas, enquanto isso as outras plantas se desenvolviam e davam seus frutos, plantei
muitas plantas, num lugar árido onde era só areia, eu criei um lugar florido e frutífero
e como se tudo isso não bastasse construi um lago com uma fonte de pedras
grandes que nem eu sei como conseguia colocar dentro do carrinho, eram amarelas,
brancas e pretas e jorrava delas água cristalinas que subiam e desciam por sobre
as pedras e ficava no meio de duas palmeiras, rodeadas de flores de todas as
cores e tamanhos e nesse mundo aparte eu trabalhava e olhava aquele amontoado
de raízes, troncos e galhos. um dia pensei como vou fazer alguma coisa sem
ferramenta própria
Fui a cidade do Rio de Janeiro e procurei uma loja de
ferramentas, comprei um jogo de formões para artesanato e mais formões grandes.
Voltei pra casa decidida a iniciar uma obra que não sabia no que ia dar, peguei
um enorme galho queimado e retorcido e comecei a limpar. só então comecei a perceber
o que realmente eu tinha pela frente, mas como eu não tinha nada a perder e
tinha todo o tempo do mundo,fui separando tudo num longo corredor,se alguém chegasse
e visse tudo aquilo, com certeza diria, realmente ficou louca, minha sorte é
que meus filhos iam me ver, uma vez a cada três meses, pois estavam morando em
São Paulo, então loucura ou não,comecei meu trabalho.Depois de separados,
comecei a limpeza tirando folhas mortas, todo tipo de sujeira, até filhote de
cobra tinha nos emaranhados de detritos
que envolviam cada um e nesse trabalho descobri que havia uma possibilidade de haver vida.
Escavei cinzas, tirei sujeira, lavei feridas,
Chorei dores que não
eram minhas
E por misericórdia de Deus, esqueci de mim,
Da deformidade, da dor,
da solidão a qual me submetera
Surpresa descobri a
beleza sob o fogo das queimadas.
Quando parei de olhar para mim e levantei a cabeça e
Passei a cuidar de
outras feridas que não as minhas
Aprendi a aceitar, meu rosto,
O espelho deixou de
ser o meu algos
Pois não era apenas o meu rosto que trazia cicatrizes
O fogo também faz cicatrizes profundas nas raízes das
árvores
Queimadas ,arrancadas
do solo ao serem jogadas
Para serem queimadas.
Quem se importou s e elas eram importantes ou não.
Descobri quanta beleza embaixo do carvão, da sujeira,
Algo difícil de
descrever,
Mas isso só foi
possível quando resolvi tomar atitude de ver,
Alem de mim,
Foi o jeito que Deus
usou para mover as águas
Da minha vida.
HOJE SEI QUE A TORMENTA,
Foi necessária e que deveria olhar para frente
E descobrir nas raízes desprezadas , jogadas, amontoadas
Sem valor,que eu
poderia mudar isso e foi assim que
Ajuntando, raízes, troncos, galhos queimados.
Comecei o trabalho de restauração de tudo aquilo
Que estava agora sob meus cuidados
Limpar, lavar, raspar e tirar toda sujeira acumulada
Pelo tempo.
Indo mais fundo, raspar todo o carvão até chegar a carne
Depois de tirar toda a impureza,consegui ver o que o fogo
Havia esculpido, encontrei formas inusitadas,
Naquele tempo não parei pra pensar nas lições que estava
tendo
E muito menos que era Deus agindo em mim.
Eu nunca havia estudado escultura e nem sabia o que fazer
Ou em que aquilo ia
se transformar, eu simplesmente agia por
Instinto ou intuição, esse trabalho me tirou do marasmo, da
inércia
Trabalhava de oito a dez horas no dia , não me cansava e
muito menos
Desanimava quando depois de dias a fio, não achava nada sob
o carvão
Eu continuava, sem pensar em mim ou no tempo que se alongava
Afinal era eu, Deus e o tempo da reconstrução de minha alma
de meus valores
E minha aceitação da nova criatura.
Eu e as raízes, quando consegui a minha primeira escultura,”
DEUS COMO SEMPRE”
Inspirou-me a criar um adstringente bactericida que pudesse
proteger
As obras, contra fungos e pragas e fiz usando vários
produtos, depois deixando essas
Obras imersas por até 15 dias na solução, passado esse tempo,
tirava e deixava a tomar
Sol, para então aplicar acabamento, sob a direção de Deus
acabei incrustando pedras
Muitas delas colhidas do mar, pedras essas que se espalhavam
pela praia
Imensa que eu tinha ao meu dispor era só colher e usar, em
outra eu aplicava cristais
A minha Primeira Obra dei o nome de “JOELHO DE CRISTAL” que
grande sabedoria de Deus
Através disso tudo, ainda continuei a trabalhar e quando dei
por mim tinha pronta mais de 20 Obras na minha sala, hoje sou grata ao meu Deus
por ter tido misericórdia de mim e não desistir de mim, quando eu já havia
desistido, continuei com tratamentos e cirurgias a cada ano que se seguiram ,
mas não desisti do meu trabalho de esculpir e trazer de volta à vida
Formas perdidas e achadas por minhas mãos e tenho tentado
mostrar aos seres humanos
O dano feito a natureza, em sua forma cruel , desnecessária
e gananciosa, pois por incrível que pareça ainda tenho dificuldade em conseguir
liberação de troncos e raízes para meu trabalho.
Eles preferem transformar em adubo, a fornecer as raízes
para mim.
Mesmo assim tenho Obras no” Acervo de obras de Arte do
Consulado Brasileiro na Itália”
Com a Obra “Envolto em Chamas”
Fiz exposições em vários Países da Europa e varias
Premiações,por exemplo
“JOELHO DE CRISTAL” Com Medalha “Bronze” em Londres.
E assim tenho conservado meu amor a arte e ao meu Deus que
tudo me deu
E que continua agindo em minha vida, hoje tenho pequena
seqüela na boca,nada que me impede de me mostrar ao mundo, não tenho meu rosto
perfeito mas minha alma esta refeita
E plena de agradecimento ao Meu Deus em quem confio, pois
que Ele me socorreu, no momento mais difícil de minha vida, quando a morte se
apresentou e todos os meus valores foram destruídos, Ele se mostrou e se fez
presente de uma forma generosa e misericordiosa
Pois eu nada tinha a oferecer além da dor, da mutilação, das
feridas abertas, da decepção, da vergonha e da pobreza de espírito.
Ele me fez ver além, vi a podridão das raízes, das árvores
caídas e socorrendo-as Deus me limpava e cuidava das minhas feridas, as
cicatrizes continuam em meu corpo em meu rosto como uma forma de não me
esquecer de onde Ele me tirou devolveu –me a vida a dignidade e o amor. As
pessoas que um dia me rotularam como louca um dia viram minhas obras que
enchiam a minha sala, não acreditavam que eu pudesse transformar um monte de
lixo em arte.O tempo passou não sem as cirurgias de cada ano, era um novo
desafio a cada cirurgia,pois a doença progredia em mim de uma forma dura,com
enfecçoes severas com seqüelas horríveis cada vez que era hospitalizada ora pra
fazer enxertos , outra pra colocação de mais Pinos de Titânio pois não havia
mais osso, cirurgias longas de 12 a 14 horas,só Deus
Sabia o que ia na minha alma.Mas Ele já tinha colocado um
anjo pra cuidar de mim, o meu medico, Dr Nelson Colombine nunca em momento
algum desistiu de mim, mesmo quando eu desisti ele dizia vamos tentar mais uma
vez,e mais uma e mais uma em 2009 coloquei um implante Condilar para poder me
alimentar e falar, sai do hospital sem saber que estava com infecção hospitalar,
quase morri, Dr Nelson me salvou mais uma vez, meu filho foi incansável ao
cuidar de mim pessoalmente,nunca disse não posso, minha filha nunca disse não
tenho dinheiro, vá e faça, mas eu tinha alem da infecção hospitalar contrai uma
bactéria por nome de Estafilococos Áureo que se instalou no meu rosto na região
da orelha o que fez com que eu ficasse 10 meses com um corte de 10 cm aberto
com secreções horríveis, fui pra mais uma cirurgia de 12 horas, depois de 15
dias, sem resultados positivos.depois de seis meses fazendo uma sessão de 3
horas em uma câmara hiperbárica sem resultado, fui parar em unidade de infectologia
com previsão de ficar internada de quatro a seis meses para tratamento, pois a
Bactéria havia se tornado resistente a todo tipo de antibióticos, só restaram dois
e esse só era aplicado em hospital, resultado eu entrei literalmente num manicômio,
com doentes terminais de todo tipo, ali eu conheci a degeneração humana na sua essência
, tanto de médicos, como de enfermeiros, sem compaixão ou piedade,ali eu pude
ver tudo de pior que se pode esperar
Quando não se tem Deus.Eu não dormi por 72 dias em que
fiquei ali, era um zumbi, que podia se mover, que podia ler que tinha acesso a
um notebook e que tinha uma janela para o mundo no 15º andar do hospital, onde
eu podia ver a vida do outro lado.
Nesse lugar tive minha alma resgatada pelo poder da palavra
de Deus e pela força de vontade do meu filho que ia a Igreja e pedia oração,
levava água consagrada para lavar meu rosto. Eu já não tinha mais braço para
colocar cateter para injeção, enquanto lá fiquei não vi alta medica de ninguém,
apenas mortes a cada dia. Contrariando todos os diagnósticos sai de lá, lavada
e curada pela mão poderosa de meu Jesus, transformada e consciente de tudo o
que ele me mostrou nestes 15 anos de lutas e perdas e hoje ganhos,fazem seis
anos que estou livre
Da doença que corroía
os meus ossos da face, hoje eu sirvo um Deus vivo e poderoso que é tudo na
minha vida. Hoje não tenho medo de nada, não tomo nenhum medicamento, sou uma
pessoa sadia e com força suficiente para trabalhar e buscar um futuro melhor.
O meu Deus me abençoou com uma Casa de Bolos Caseiros, um
projeto a muito sonhado por mim, trabalho de cedo a noite sem me cansar. O que
passou ficou no passado, ficou o aprendizado de muitas lutas e batalhas e a
certeza de que Deus é minha rocha e meu escudo Nele sou uma vencedora para a
glória de Deus.
Esse é o testemunho do que vivi
Deus age em nossas
vidas se nos achegarmos a Ele
E a Ele nos entregarmos de todo coração e o amarmos
Com todas as forças do nosso pensamento, Ele é poderoso
Para mudar a sua vida como mudou a minha,
Entrega os teus caminhos ao Senhor, confia Nele e o mais Ele
Fará na sua vida.
Guarulhos, 31 de maio de 2015.
Darcy
Bilherbeck.
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